quinta-feira, 21 de março de 2013

kim

(...) E, enquanto chorava, num canto, rodeada de uma lâmina, uma garrafa de vodka, e um charro, Kim pegou na sua habitual lâmina, com força, com um enorme ódio e desespero nos olhos. Estava decidida: “É hoje. Cansei-me. Estou farta. Não sei mais lidar com isto. Acabou!”. E começou a espetar a lâmina nos pulsos, a fazer cortes cada vez mais profundos. Chorava sim, mas não pela dor dos cortes. Aquela era uma dor diferente, era algo que ela sentia por dentro, algo que ela não sabia explicar, algo profundo e insuportável. Pegou na garrafa de vodka e deu um golo enorme. Já estava a sentir a moca do charro que estava a fumar, enquanto continuava a beber e a cortar-se. Kim era uma rapariga sem auto-estima nenhuma. Olhava para o espelho, e no seu reflexo via uma rapariga gorda, feia, nojenta, desprezível e ridícula. Tinha pena dela própria. E ao lembrar-se disso, começou a mutilar-se brutalmente na barriga e nas pernas. À sua volta só se via uma imensa poça de sangue e cinzas do charro. O cheiro a ganza e a álcool que estava no ar era quase intoxicante. Na sua cabeça, Kim só via flashbacks da sua vida. Desde que nascera, até ao ponto de decadência a que tinha chegado. Quanto mais se lembrava, mais chorava. À medida que os segundos passavam sentia-se cada vez mais fraca, cada vez mais desligada. Sentia-se a desvanecer. Até que os seus olhos se fecharam. E a partir desse dia, nunca mais se voltaram a abrir. Foi o fim.

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